Machado de Assis

No Morro do Livramento, Rio de Janeiro, então capital do Império, em pleno Período Regencial. Nasceu Machado de Assis, filho de uma família pobre, em 21 de junho de 1839,   

Seu pai foi Francisco José de Assis, homem mulato, pintor de paredes, filho de Francisco de Assis e Inácia Maria Rosa, ambos pardos. 

A mãe foi a portuguesa Maria Leopoldina Machado da Câmara, branca, filha de Estêvão José Machado e Ana Rosa. Os Machado haviam emigrado para o Brasil em 1815, oriundos da Ilha de São Miguel, no arquipélago português dos Açores. 

Ambos os pais de Machado de Assis sabiam ler e escrever, fato incomum na sua época e classe social. 

Ambos eram agregados de Dona Maria José de Mendonça Barroso Pereira, que foi esposa senador Bento Barroso Pereira. O senador deu abrigo aos pais de Machado de Assis e permitiu  que eles morassem junto à esposa.

Machado de Assis mal cursou o ensino regular em escolas públicas e nunca freqüentou uma universidade. Para o considerado crítico literário norte-americano Harold Bloom, Machado de Assis é o mais ilustre dos descendentes nascidos da união de negros alforriados  com senhoras portuguesas, ainda que d. Inácia tenha nascido na ilha de São Miguel. Seus biógrafos registram que, muito embora Machado de Assis fosse interessado pela boemia, tornou-se o maior escritor brasileiro não branco de todos os tempos, valendo-se da superioridade intelectual e  cultural da capital brasileira.

Até hoje ecoam os brados daqueles que preferiram afirmar que Machado de Assis teria sido mestiço, numa discussão que é conhecida como de “o branqueamento do escritor”.

Machado lutou por sua ascenção social, tendo assumido diversos cargos públicos, passando pelos Ministérios da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas (particularmente pela Diretoria da Agricultura), conseguindo precoce notoriedade em jornais, muito pelo fato de publicar nos periódicos suas primeiras poesias e crônicas. 

Ele pôde assistir, às profundas mudanças históricas e às transformações  na política, na economia e nos hábitos sociais no Brasil e no mundo havidas desde o final da primeira metade do século XIX, até os anos iniciais do século XX ( de 1839 a 1908).

Em sua maturidade, seu círculo de amizades era fromado por intelectuais, com os quais publicou a extensa obra machadiana,  composta de dez romances, 205 contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. 

É considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

Memórias Póstumas de Brás Cubas  foi traduzido para diversos idiomas, dentre os quais: o inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, sueco, polonês, tcheco, russo, romeno, estoniano, holandês e esperanto. Memórias Póstumas de Brás Cubas integra todas as listas de suas grandes  produções posteriores, como Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes à sua segunda fase, em que notam-se traços de crítica social, ironia e até pessimismo, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da chamada “Trilogia Realista”. 

Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou “convencionalismo”, como prefere a crítica moderna.

Machado de Assis garantiu seu sustento principalmente através de sua carreira como funcionário público, ocupando cargos diversos nos Ministérios mencionados, na Secretaria de Estado e na Imprensa Nacional, o que lhe proporcionou estabilidade financeira e renda mensal. 

Além disso, ele também auferia recursos com sua carreira literária, embora essa renda fosse menos estável, publicando crônicas, contos e livros. 

Do trabalho inicial como aprendiz de tipógrafo e revisor na Imprensa Nacional, além dos salários que recebia, obteve contatos valiosos com o mundo literário. Mais tarde, promovido a cargos de chefia no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, surgiu a estabilidade financeira, tendo chegado mesmo a diretor-assistente no Diário Oficial. As fontes de renda da sua produção literária, mais variadas e menos previsíveis, vinham de crônicas, artigos e críticas para diversos jornais e revistas da época, como o Correio Mercantil. Publicou  também romances, contos e poemas. mas a fama e o reconhecimento foram maiores após sua morte. Escreveu peças de teatro, que lhe renderam alguma notoriedade e dinheiro, mas muitas delas não chegaram a ser encenadas em vida. 

Sua obra  e seu legado foram de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX, surgindo ainda nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e popular para entender o Brasil e o mundo. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e muitos outros. 

Hoje em dia, por sua inovação literária e por sua audácia em temas sociais  precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, influenciado estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante, Shakespeare e Camões. 

Machado de Assis e Eça de Queiroz são considerados dois dos maiores escritores da língua portuguesa do século XIX. Foi incluído na lista oficial dos Heróis Nacionais do Brasil e é homenageado pelo principal prêmio literário brasileiro, o Prêmio Machado de Assis.

Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça tendo como apoiador Machado de Assis, o entusiasmado  grupo de intelectuais da Revista Brasileira idealizou e fundou, em 1897 a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo, de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional. 

Unanimemente, Machado de Assis foi eleito o primeiro presidente da Academia logo que ela se instalou, no dia 28 de janeiro de 1897, com a aprovação de seus estatutos, embora sua sessão inaugural tenha sido em 20 de julho de 1987

Como escreve Gustavo Bernardo, “Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão”.

No discurso inaugural, Machado aconselhou aos presentes: “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira”.

A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a idéia do instituto não foi bem aceita por alguns: Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência: “Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento Machado, creio, fez a princípio algumas objeções.”

Como presidente, Machado fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros.

Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas. Em 1901, criou a “Panelinha” para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.

Machado devotou-se ao cargo de presidente da Academia durante 10 anos, até a sua morte.

Como homenagem informal, a Academia Brasileira de Letras passou a chamar-se “Casa de Machado de Assis”. Hoje em dia a Academia abriga coleções de Olavo Bilac e Manuel Bandeira, e uma sala chamada de Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus  tendo como grande peça de acervo uma rara edição de 1572 de Os Lusíadas.”

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